quinta-feira, 23 de julho de 2009

Também gosto de ti


Então ele era assim: giro, os nossos olhos sempre comunicaram mais que o resto até porque nunca nos tocámos muito com medo do que viesse a seguir. Digamos que sempre houve tesão entre nós. Mais ou menos da minha altura, mais ou menos tão louco como eu, mais ou menos tão bêbado que eu...cabelo curto mas sempre com uns "cortes estilosos". Antes ele usava anéis e brincos e um fio ao pescoço (acho eu...não tenho a certeza!) mas depois disse que se andava a enfeitar para se esconder e que já não o queria. Detestava-se demais para se arranjar.
Já disse que sempre o achei giro? Sempre gostei da voz dele e dos abraços dele, assim meio desajeitados tipo "vou abraçar uma mulher mas espera que ela é a amiga não é uma mulher que se demonstre abraçar como tal", dos beijitos que me dá e lembro-me dos boxers que tinha vestido numa noite de uma passagem de ano em que dormiu na minha casa e na minha cama e nem aí nos chegámos perto...nada! As mãos dele? Ele antes mexia-as muito, esfregava-as muito e punha um dedo de vez em quando na boca não sei se roi as unhas,tinha umas costas que apeteciam e uns ombros bonitos.Já disse que ele é dos meus escritores favoritos? Escreve bem, muito bem, escreve com a alma de quem sente e o cérebro de quem sabe.É o meu orgulho esta amizade que sei que nunca estraguei com um ou dois orgasmos.

Andámos no parêntesis de sermos amigos. Amigos e amigos que partilhavam histórias e bebedeiras e corações partidos porque ele andava a recuperar de uma relação da qual nunca recuperou porque ainda hoje em dia vive com ela e nao em termos metafóricos...ele não vive com a recuperação mas sim com a pessoa com quem teve/tem (nunca percebi bem) a relação amorosa. Eu andava nas nuvens por causa de um beijo dado a não sei quantos mil pés em pleno oceano atlântico e queria mais mas o outro gajo não e então eramos "amigos de coração partido "e com uma vontade imensa de curar as feridas que tínhamos com as lambidelas um do outro...mas eramos amigos.

As noites passavam e as conversas e os cigarros também. Tínhamos deixado os dois de fumar ganzas. A vida de repente fechou o nosso parentesis e ele voltou a reatar a relação do coração partido e como a dita namorada nunca simpatizou comigo, então ele escolheu o amor e a relação e eu, a amiga das bebedeiras e do coração partido ficou para trás.
Ocasionalmente encontramo-nos. Ele está com ela e ela olha-me de lado. Eu faço de conta que não percebi que me olhou de lado e dou-lhes o meu mais sincero sorriso. Não o cumprimento com 2 beijos na presença dela...
Tenho saudades mas não mudava nada.
Obrigada



(Tinha este texto em rascunho para publicar e ontem o meu amigo apareceu...acrescento:)
Ocasionalmente ele aparece sozinho...e voltamos aos amigos de bebedeira.
Dá-me beijitos, lembra-me que é mais ou menos tão louco como eu, tão díspar como eu mas mais acompanhado na sua solidão do que eu.
Lembra-me que sou bonita que tenho muitas qualidades e que ele é um dos que sim, que as vê, que não anda tudo cego.
O alcool começa a fazer efeito e já não nos olhamos tanto, já nãos nos encaramos e já me habituei e já nem estranho.
Somos dois amigos que só dizem gostar um do outro e se pedem perdão mutuamente assim...de vez em quando e em ocasiões especiais.
Não me esqueço de ti
Também gosto de ti

Escrevi um dia (há muitos anos) um texto para ti e muito melhor do que este até porque no outro blogue corria sérios riscos que tu o visitasses e até comentasses por isso me aprimorei...aqui deixo as palavras ganharem a vontade de se juntarem umas a seguir às outras e saem assim, mais confusas e mais reais. Estou mais velha como tu e ainda sinto o mesmo. Vamos equilibrando este ser velho que sempre fomos neste corpo que também vai chegando a outras idades...um dia voltamos a ser amigos.
Adoro-te.

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